Coruripe, no sul de Alagoas, não faz muito deixou de ser considerado município de pequeno porte. São pouco mais de 50 mil habitantes, contabiliza o último Censo do IBGE. Para a professora Alexandrina Ferreira Gouveia, a cidade representava um desafio. Após oito anos em sala de aula e com alguma experiência em gestão escolar no povoado de Colônia Pindorama, ela pensou duas vezes antes de aceitar a transferência para a sede municipal, em uma unidade de ensino maior. Acabou topando o desafio. E lá se vão 20 anos.
“Deu certo. Quando a gente quer muito algo, consegue. Fiquei noites sem dormir para organizar tudo”, recorda Alexandrina, diretora da Escola Municipal Liege Gama Rocha, sobre a preparação para gerir uma escola movimentada, com dois segmentos do Ensino Fundamental, algo inédito para ela. São três turnos, com cerca de 1.800 alunos, do 1º ao 9º ano, e turmas de Educação de Jovens e Adultos (EJA).
Nas últimas duas décadas, surgiram outros desafios para Alexandrina. Um deles diz respeito à OBMEP. Como diretora da Liege Gama Rocha, escola que aderiu à competição desde que foi criada pelo IMPA, em 2005, ela gostaria de ver os alunos entre os medalhistas, indo além das sete menções honrosas conquistadas durante nove anos de participação na olimpíada.
Em 2013, a diretora conversou sobre seu desejo com Antônio Gonçalves, professor de Matemática da instituição, que logo abraçou a ideia e aceitou ajudar, voluntariamente. Surgiu, assim, o Laboratório de Aprendizagem de Matemática, por meio do qual os alunos têm três horas de aula de reforço no contraturno, nos cinco dias da semana. Atualmente, cerca de 60 estudantes divididos em duas turmas participam do projeto.
“No começo, pedi aos professores que indicassem os alunos que mais se destacavam. Depois, os próprios alunos começaram a se interessar e pedir para participar”, relata Alexandrina.
As medalhas não tardaram a aparecer. Em 2014, a escola conquistou as três primeiras desde que passou a se inscrever na competição, em 2005. No ano seguinte, 2015, foram quatro; em 2016, cinco; e no ano passado, o número dobrou, chegando a dez medalhas (1 de prata e 9 de bronze). Em 2017, a Liege Gama Rocha obteve o maior número de medalhas entre as escolas da rede municipal e estadual, além das particulares.
A melhora no desempenho contagiou toda a escola, que, recentemente, passou a proporcionar aos alunos outra forma de se aprofundar em Matemática. Tornou-se participante do programa Polo Olímpico de Treinamento Intensivo (POTI), programa da OBMEP que oferece cursos gratuitos de Matemática para alunos do 8º e 9º anos do Fundamental e de qualquer ano do Ensino Médio. Como os medalhistas já participam do Programa de Iniciação Científica (PIC) oferecido pela OBMEP, com uma aula semanal com professores universitários, em Maceió, acabam disseminando entre os colegas a ideia de que é possível ir além por meio dos estudos.
OBMEP é aprendizado também para professor
Professor da Escola Liege Gama Rocha desde 2006, Antônio Gonçalves conta que, ao se deparar pela primeira vez com uma prova da OBMEP, sentiu dificuldade para resolver as questões. “Pensei que se acontecera comigo, a tendência era ocorrer o mesmo com meus alunos. Diante disso, fiquei preocupado e comecei a me aprofundar nos estudos”, conta.
Fácil não foi, admite. Até dominar o assunto, passou um ano debruçado sobre as questões aplicadas em todas as edições da OBMEP. “Ia dormir por volta de 1h, todos os dias. Pela manhã, aula; à tarde, Laboratório de Aprendizagem; à noite, estudava as questões até a madrugada”, diz, lembrando que, em casa, a rotina de dedicação total já dava o que falar.
O esforço deu resultado. Gonçalves mudou até mesmo sua metodologia de ensino. Por sua atuação em sala de aula e pelo desempenho dos alunos, foi premiado em 2015, 2016 e 2017 – este ano, virá ao Rio com outro professor de Alagoas, para receber o prêmio. “É gratificante, fruto de um longo trabalho. E todo mundo ganha com isso”, avalia.
Aos 14 anos, o aluno do 9º ano Edeilson Costa de Azevedo Filho já participou três vezes da OBMEP. Na estreia, não conquistou medalha. “Vi que precisava me dedicar mais. O professor Antônio Gonçalves me chamou para o Laboratório. Fui e, no ano seguinte, já ganhei bronze. Ano passado, fiquei assustado com a prova, mais complexa, mas estava estudando bastante e, por ter ganhado bronze, fazia o PIC. Acabei conquistando outro bronze.
Em casa, afirma, a Matemática não é unanimidade, mas todos festejaram as medalhas. “Meu pai não gosta muito de Matemática. Minha mãe é professora. Eu me esforço muito para alcançar meus objetivos. A OBMEP veio como um incentivo para realizar meus sonhos. Além disso, o PIC é tudo de bom. Lá temos professor com doutorado. Isso é um incentivo”, ressalta o estudante.
Aluno do 8º ano, Marcos Azevedo Inácio Júnior também participa do Laboratório de Aprendizagem e conquistou bronze no ano passado. Assim como Edeilson, tem compromisso aos sábados: seguir até a capital, para as aulas do PIC. “Você começa a ficar orgulhoso de você mesmo”, conta, sobre as conquistas na OBMEP.
Os resultados, salienta Alexandrina, têm trazido benefícios para toda a escola: “Os alunos que ganham medalhas fazem questão de dizer que todos têm essa capacidade. É só querer e ir atrás. Através da perseverança e de muito estudo. Agora estamos em busca do ouro!”, diz, otimista.