Wellington Leite pensa no futuro como “algo distante”, mas sabe que está prestes a dar um importante passo. Em fevereiro, se muda para o Rio de Janeiro, onde vai dar início à graduação em matemática na Fundação Getúlio Vargas (FGV). “Agora, penso em me dedicar aos estudos. Depois, colher os frutos. Talvez, me tornar pesquisador. Mas com certeza quero ajudar a minha família”. Enquanto espera o início das aulas, ele vem estudando por conta própria cálculo, análise real, álgebra linear. “Quero extrair o máximo de conhecimento possível da FGV.”
Até 2018, o estudante cursou o Ensino Médio na escola pública Onélia Campelo, na periferia de Maceió, e teve a vida transformada a partir da OBMEP (Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas). “Mudou praticamente tudo. Gostava de números desde pequeno, só que achava as aulas do colégio muito fáceis, o que diminuía meu interesse. Quase fiz física, mas voltei atrás quando comecei a ler os livros para participar da competição matemática.”
Durante a maratona de estudos, o jovem teve a energia da casa onde mora com a mãe cortada por sete meses e chegou a estudar sob a luz do poste na rua onde vivia. Wellington é filho de uma catadora de recicláveis e viu na força da mãe, motivos para continuar.
A inspiração em Teresinha deu certo: garantiu a medalha de ouro na Olimpíada Alagoana de Matemática e a prata na OBMEP. “Ele sempre foi meu herói. Não tive a oportunidade de estudar, mas ele está conseguindo”, comemora a mãe.
Foi quando a história do estudante se cruzou com a do professor Krerley Oliveira, do Instituto de Matemática da Universidade Federal de Alagoas (UFAL). “Em 28 de novembro de 2018, fui olhar a lista de medalhistas na OBMEP porque queria conhecê-los. O professor José Lucyan Mendonça, que faz parte do OBMEP na Escola, conhecia Wellington e me informou que a casa dele era bem próxima à UFAL. Fui até lá.”
“Assim que eu cheguei à casa da família, descobri que ele e a mãe estavam sem energia elétrica. Houve um aumento na conta de luz e ela não pôde arcar com os custos”, conta o professor.
Krerley lembra que os três foram a um rodízio de pizza para celebrar a conquista das medalhas. “No mesmo dia em que fomos comemorar, a TV Gazeta, afiliada à Rede Globo, gravou com Wellington. A história foi ganhando visibilidade e, assim, muitas pessoas se juntaram para pagar a conta de luz atrasada. Até os funcionários da empresa que fornecia energia entraram na vaquinha.” A partir da enorme repercussão, o estudante foi convidado a cursar o terceiro ano do Ensino Médio em um colégio particular de Maceió, mas não deixou de frequentar a antiga escola para ajudar outros alunos.
“Todas as sextas-feiras, lá estava ele: reunia uns dez alunos e passavam a tarde estudando questões olímpicas”, conta Lucyan. “Ele participava do Programa de Talentos da OBMEP, então foi um incentivo muito importante. As contribuições preencheram diversas lacunas que tinham ficado para a turma.”
Lucyan lembra que Wellington se destacava em todas as disciplinas do colégio, mas eram as questões matemáticas que ele resolvia com grande facilidade. “Participava muito das aulas. Uma vez, estranhei o fato de ele não levar o trabalho de casa feito: o material era publicado em um grupo de Facebook, mas com o corte da eletricidade, ele não tinha como ver. Passei a imprimir os exercícios.”
No fim do ano passado, outra conquista: aprovação e bolsa de estudos na FGV. “Exatamente um ano e um dia depois de nós nos conhecermos, recebemos a notícia de que Wellington havia sido aprovado para a graduação na FGV”, conta com entusiasmo o professor Krerley.
O futuro matemático, que esteve no Rio recentemente para participar do programa da TV Globo “Encontro com Fátima”, diz estar preparado para a mudança. “Me sinto em casa quando vou a um lugar que tem gente que gosta e que cresce com a matemática. Eu vejo muitas oportunidades de a faculdade transformar a minha vida para que possa me desenvolver como pessoa. E é isso que estou buscando neste momento: me aperfeiçoar naquilo que amo.”