Majoritariamente rural, Oeiras (PI) se destaca na 16ª OBMEP

 

Alunos da cidade conquistaram 19 medalhas e 43 menções honrosas


No coração do Piauí, a cidade de Oeiras, localizada a 280 km da capital, vem despontando como uma gigante da matemática no estado. Na 16ª edição da OBMEP (Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas), o município de 36 mil habitantes mostrou que o investimento na preparação para a OBMEP rendeu frutos: foram 19 medalhas e 43 menções honrosas conquistadas pelos alunos da rede pública. Localizada em zona majoritariamente rural, Oeiras prepara seus estudantes para a olimpíada a partir do projeto “Oeiras Olímpica”, que oferece aulas de matemática no contraturno escolar para alunos que disputam o Nível 1 e Nível 2.

No Piauí, a cidade de Cocal dos Alves já é nacionalmente conhecida como a “capital da matemática”, por causa do notável desempenho de seus alunos na OBMEP. Com o investimento na competição, a cidade viu o nível do ensino subir e, ano após ano, se superou na conquista de novas premiações. Agora, é a vez de Oeiras se destacar entre as cidades mais premiadas do estado do Piauí, com 4 medalhas de ouro, 5 de prata e 10 de bronze.

Professora e supervisora do projeto Oeiras Olímpica, Sandra Regina Martins Salvador, explica que o exemplo de Cocal dos Alves demonstrou que o sucesso na OBMEP pode abrir portas aos alunos. “Apesar de ser uma cidade muito pequena, Cocal dos Alves tem uma representação muito grande nas olimpíadas, maior até do que a de Teresina, que é capital do estado. Então foi uma inspiração para nós. A gente entendeu que também podia chegar lá, mas precisávamos encontrar o nosso próprio caminho. Tínhamos algumas fragilidades em Oeiras, principalmente na zona rural, mas precisamos aproveitar a habilidade de alunos que têm aptidão para a área”, diz.

O professor Egnilson Miranda Moura, coordenador regional da OBMEP, é responsável pela zona do Piauí que engloba Oeiras. Ele atribui o sucesso na competição ao trabalho desenvolvido pelo município, que oferece treinamento específico para a olimpíada. “É um trabalho de preparação de alunos espetacular. E vale ressaltar que este treinamento não faz distinção entre alunos pertencentes a uma escola rural ou urbana. Na verdade, boa parte dos alunos premiados nesta edição são de escolas da zona rural”, comenta.

Criado em 2018, o projeto Oeiras Olímpica reúne seis professores que dão aulas específicas para a OBMEP. As aulas são oferecidas a todos os interessados, no contraturno escolar, em 28 escolas da região, das quais 14 são em área urbana e 14 na zona rural. “Em 2018 começamos somente com algumas escolas, mas no ano seguinte ampliamos para toda a zona rural. Nesta edição, tivemos um ótimo resultado! Acredito que isso aconteceu porque nós continuamos as aulas de forma remota na pandemia, não desistimos do projeto em momento nenhum”, afirma o professor e supervisor de mídias Renato dos Santos Martins.

Alunos do campo enfrentam dificuldades no acesso à escola

Um dos percalços enfrentados pelo município é o fato de a cidade possuir grande parte da população vivendo em zona rural. Com muitos alunos morando no campo, é comum que o acesso à escola seja dificultado. Para evitar que os jovens precisem se deslocar até o centro a quilômetros de distância, o município possui sedes no interior, que seguem o mesmo programa educacional das escolas urbanas. 

Jodiléia Pacheco de Barros é diretora da Escola Municipal do Contentamento, a maior unidade da zona rural, que atende mais de 30 comunidades. “Eu dei gritos de alegria quando soubemos do resultado, porque embora o nosso ensino seja o mesmo de escolas urbanas, temos dificuldades. A internet aqui não chega como lá, então existem várias complexidades. Mas isso não desestimulou os alunos, pelo contrário, acredito que isso os impulsionou mais ainda a buscar essa medalha”, afirma.




$result.label $result.label $result.label $result.label $result.label $result.label

Medalhistas se surpreenderam com suas conquistas

Este é o caso de João Álvaro Santos Silva, de 15 anos, filho de agricultores que conquistou uma medalha de bronze na 15ª OBMEP e acaba de conseguir uma medalha de prata. Ele conta que seu sonho é cursar engenharia civil e a paixão pela matemática só cresceu com o projeto. “Na minha família não tem ninguém dessa área. Sou o primeiro a seguir o caminho da matemática. Quando recebi a notícia que ganhei a prata, eu pulei de alegria! Eu estava confiante depois da prova, mas fiquei muito feliz com a conquista e meus pais também. Acho que ficaram mais orgulhosos do que eu”, comentou. 

O novato Kairo Eduardo Aragão de Oliveira, de 12 anos, arrebatou uma medalha de ouro em sua estreia na OBMEP. Também aluno da zona rural e filho de agricultores, Kairo conta que a experiência na competição foi surpreendente. “Achei a prova muito diferente, com questões difíceis, mas consegui fazer. Acho que sem o projeto eu não teria levado o ouro. Sempre gostei da matemática, acho que vem de dentro, mas ainda assim foi uma surpresa. Eu realmente não esperava!”, comemora com felicidade.

Além brilhar na OBMEP, município superou meta proposta pelo INEP

As conquistas de Oeiras não se resumem às medalhas e menções honrosas, apesar de serem feitos grandiosos. A cidade também superou a meta proposta pelo Inep para 2021, que definia que todo o Brasil deveria alcançar a nota 6,0 no Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica). O índice leva em conta o nível de qualidade educacional, em termos de proficiência e rendimento (taxa de aprovação), e a meta de alcançar a nota 6,0  é uma tentativa de elevar o Brasil ao patamar dos países com o melhor sistema de ensino do mundo. Em 2019, Oeiras recebeu a nota 7,4 nos anos iniciais e 6,3 nos anos finais no Ideb.

Nas escolas da zona urbana, alunos também tiveram motivos para comemorar. O multimedalhista Igor Gabriel Oliveira da Silva, de 15 anos, recebeu uma medalha de ouro. “Eu estou muito feliz! Fiz a prova inteira e sabia que tinha me saído bem, mas a notícia foi motivo de muito orgulho”, comemora. Essa é a terceira medalha consecutiva do aluno da Escola Municipal Juarez Tapety. Na 14ª edição, ele levou seu primeiro ouro e, na 15ª, conquistou a prata. “O primeiro ouro foi uma conquista muito grande. Fui à premiação nacional, em Salvador, e foi uma experiência incrível. Uma das primeiras vezes que andei de avião! Fiz amigos lá que são próximos de mim até hoje”, afirma Igor Gabriel.

Assim como Igor, a aluna Maria Gabriela Holanda Martins, de 13 anos, do E. M. Juarez Tapety comemora medalhas consecutivas. Ela recebeu o bronze na 15ª edição e, agora, conquistou uma medalha de prata. “Fiquei muito emocionada com a notícia de que tinha conquistado a medalha. Não esperava a prata porque foi minha primeira experiência no Nível 2, que tem uma dificuldade mais elevada, então fiquei muito feliz”, diz. 

Filha do professor Renato dos Santos Martins, Maria Gabriela sempre teve a matemática presente na sua vida. Seu irmão mais velho também é medalhista da OBMEP. Mas ela confessa que o gosto pela disciplina só veio com o tempo. “Eu não gostava tanto de matemática, mas acabei tendo uma inspiração muito grande em casa. Então, hoje em dia, mesmo que eu goste mais da área de linguagens, me dedico para ter um bom desempenho na OBMEP! Eu e meu irmão estudamos muito juntos, a gente troca bastante”, explica  Maria Gabriela.

O pai, orgulhoso, afirma que o projeto de estímulo à OBMEP gerou não somente maior motivação nos alunos para o estudo, como também incentivou a entrada dos jovens no universo do conhecimento científico e tecnológico. “Fomentar as olimpíadas ajuda muito no crescimento dos alunos e também traz oportunidades para o futuro profissional deles. Além disso, eles se motivam para fazer valer. Nosso maior intuito é fazer com que a educação na rede cresça e ecoe para todos!”, conclui.