Lurdilene Oliveira da Silva, de 45 anos, lembra que a filha Mariana Paim da Silva era uma criança que estava frequentemente com a “cabeça nas nuvens”. Preocupada, perguntou para a menina de cinco anos o motivo da distração e a justificativa a surpreendeu: era tudo matemática. A pequena carioca tinha o hábito de imaginar e realizar contas olhando para o teto. A facilidade com a disciplina rendeu um aproveitamento de 100% na OBMEP: duas medalhas de ouro conquistadas nas duas únicas edições das quais ela participou (16ª e 17ª OBMEP).
Foi no 1º ano do Ensino Fundamental que Mariana descobriu a existência da olimpíada e se sentiu atraída pela ideia de conquistar uma medalha.
“Lembro de ouvir falar da OBMEP porque algumas crianças do 6º ano estavam comentando sobre a prova. Coloquei na cabeça que iria ganhar uma medalha de qualquer jeito! Senti que poderia conseguir uma premiação e orgulhar minha família. Mas ainda precisava esperar muitos anos para participar”, comentou.
Moradora da comunidade da Tijuquinha, na zona oeste do Rio de Janeiro, Lurdilene, que trabalha como manicure, frisa que a filha sempre estudou por conta própria. “Ela é muito esforçada! Nunca a obriguei a estudar, então ela mesma se organizava e decidia os horários. O desejo partiu dela, que sempre sonhou em ganhar uma medalha da OBMEP”, disse a mãe.
Antes mesmo de poder participar da OBMEP, Mariana mostrava o talento para o raciocínio lógico. No 4º ano do Ensino Fundamental, o desempenho da aluna da Escola Municipal Professor Didia Machado Fortes surpreendeu colegas e professores.
“A professora adaptou uma prova com 15 questões da OBMEP, porque normalmente são 20. Eu nem tinha me preparado, mas depois fiquei sabendo que acertei 11 questões! Foi uma surpresa, principalmente porque ela disse que estava muito acima da média da escola, que era de 9 a 10 questões. Fiquei ainda mais ansiosa para chegar ao 6º ano e poder fazer a prova para valer!”, lembrou Mariana.
Quando chegou o momento de competir na OBMEP, levou o tão sonhado ouro olímpico para casa. “A primeira prova foi na época da pandemia, quando eu estava um pouco mais relaxada nos estudos, por isso foi uma grande surpresa ter sido premiada. Quando vi o resultado, fiquei estática por quase um minuto e comecei a chorar”, disse.
A premiação garantiu o direito de participar do Programa de Iniciação Científica Jr. (PIC), que oferece aulas aprofundadas da disciplina e uma bolsa de R$ 100 para estudantes de escolas públicas, concedida pelo CNPq. Mariana optou pela modalidade online.
“O PIC é muito diferente da escola, desde a forma como eles apresentam o assunto até como ensinam a resolver os problemas. Foi importante para formar o conhecimento que eu tenho hoje em dia. A turma em si troca, conversa e discute a questão até chegar no resultado”, afirmou.
Com aulas aos sábados, Mariana considera que teve acesso a materiais mais aprofundados e melhorou o raciocínio lógico, além de ter aprimorado a forma de justificar as questões. “Foi muito mais fácil conseguir a segunda medalha”, avaliou.
A segunda medalha dourada veio no 7º ano do Ensino Fundamental, depois da participação no programa, quando a carioca já estudava na Escola Municipal Rodrigues Alves. Apesar da preparação, a surpresa ainda foi grande. “Comecei a chorar. De novo! Acho que minha reação é sempre essa”, brincou a jovem.
Mariana também foi premiada com o ouro na Olimpíada Carioca de Matemática (OCM), promovida pela Prefeitura do Rio de Janeiro em parceria com o IMPA.
Embora comemore cada conquista, Lurdilene afirma que o maior orgulho não é o desempenho escolar da filha.
“Me sinto muito feliz de ver minha filha, que é de escola pública, chegar onde chegou. Como mãe, é uma sensação muito boa! Tenho muito orgulho, principalmente porque ela é uma menina muito humilde. Ele não se acha melhor do que ninguém por isso, o que admiro mais ainda!”, conclui.